Visita Guiada

A decadência do Império Romano do Ocidente corresponde à disseminação do cristianismo. Nessa transição, a Igreja Católica instala-se sobre as estruturas administrativas de Roma e consolida o seu poder. No séc. XII, a criação do reino de Portugal é fruto, entre outros fatores, do longo processo de unificação da cristandade europeia e a igreja de São Pedro de Rates testemunha a emergência dessa nova entidade política na Península Ibérica: dos últimos condes de Portucale ao primeiro rei de Portugal, seu filho, D. Afonso Henriques. Monumento nacional, a igreja de São Pedro de Rates é um repositório da primitiva arte portuguesa. Uma visita guiada pelo medievalista Luís Amaral, Professor da Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Uma aula magistral que percorre 800 anos de História.

Deserto, o arquipélago de Cabo Verde foi descoberto por navegadores ao serviço do Infante D. Henrique no exato ano da sua morte, 1460. Cinco anos antes, em 1455, o Papa Nicolau V, como paga pelos esforços da expansão marítima e da cristianização dos "infiéis" e dos "pagãos", concedera a D. Afonso V uma Bula que conferia ao rei de Portugal e aos seus sucessores o direito a todas as terras por eles descobertas e a todas as que viessem a descobrir, bem como o direito de subjugação dos "infiéis" e dos "pagãos" que nelas habitassem. Quase 600 anos depois, a Bula Romanus Pontifex é um documento tão extraordinário como tenebroso e esclarece parte do que era ser europeu e cristão em meados do séc. XV. É sobre o contexto da descoberta de Cabo Verde e sobre o povoamento da sua maior ilha que André Teixeira, historiador e arqueólogo da História da Expansão, nos vai guiar por Santiago.

Árido e muito mais distante que os Açores e a Madeira, também achados desertos, o arquipélago de Cabo Verde não era atrativo para a colonização: a Península Ibérica ficava demasiado longe deste território tão diferente do que até aí se conhecia. Para povoar a ilha de Santiago, a maior das 10 ilhas de Cabo Verde e a primeira a ser ocupada, o rei de Portugal teve de ceder a uma estratégia sem precedentes: oferecer a quem se atrevesse a avançar para o povoamento o direito a comerciar, com proveito próprio, com os africanos da Costa da Guiné. É assim que nasce o primeiro assentamento de europeus a sul do Trópico de Câncer e é assim que nasce a plataforma de africanos escravizados na ilha de Santiago. É da emergência dessa sociedade e dos seus desenvolvimentos que nos vai falar António Correia e Silva, o historiador que fundou a Universidade de Cabo Verde.

Quando, a partir dos finais do séc. XVI, o reino de Portugal começa a deixar cair o acordo que fizera com os primeiros colonos europeus da ilha de Santiago, desencadeia um processo económico, social e cultural sem retorno. Ao mesmo tempo que deixam de se fixar novos europeus e africanos na ilha, a mestiçagem entre a população negra e branca aumenta rapidamente. A partir de meados do séc. XVII, a História de Cabo Verde começa a ser definida fundamentalmente pelos seus processos internos. Das tensões crescentes com Portugal à emergência da consciência cabo-verdiana, muito antes do séc. XX, o historiador António Correia e Silva guia-nos por parte dos caminhos que conduziram à independência de Cabo Verde.

O movimento neorrealista emergiu na Europa, EUA e América Latina nos anos 30 do séc. XX. Na literatura, artes plásticas, cinema, teatro, aqueles que mais tarde foram classificados como neorrealistas instavam à transformação do mundo, combatendo todas as formas de exploração. Era, assumidamente, arte com uma missão política. Este movimento produziu obras icónicas, mas durou pouco mais de duas décadas e foi estigmatizado. É a sua história em Portugal que o ensaísta António Pedro Pita e David Santos, o diretor do Museu do Neo-Realismo, nos vão contar.

A partir da história da navegação no rio Trancão e passando pelo antigo Vala Real de Salvaterra de Magos, o geógrafo Jorge Gaspar explica-nos como os afluentes do Baixo Tejo serviram, durante séculos, para alimentar Lisboa. O decano Jorge Gaspar guia-nos ainda por algumas das mais emocionantes histórias dos grandes rios da Europa, defendendo que foram as navegações fluviais que construíram a identidade do território que se estende do Cabo da Roca aos Urais.

A Casa do Castelo, como é conhecida em Serpa, foi edificada no século XVII pela família Melo. O primeiro Melo a fixar-se em Serpa, no séc. XV, era militar, uma tradição familiar, e ocupou em Serpa sucessivos cargos de confiança régia. Despojada, mas imponente, a Casa do Castelo, da segunda metade de 1600, testemunha o crescente engrandecimento social da família Melo. Mas, apesar dos sucessivos serviços prestados à coroa portuguesa ao longo de gerações, os Melo de Serpa só foram distinguidos com um título nobiliárquico - Condes de Ficalho - no séc. XVIII. E, no séc. XIX, segundo o sétimo Marquês de Fronteira, não foram devidamente compensados pela ajuda que deram à expulsão dos franceses de território nacional e à Causa Liberal. Uma visita guiada a três vozes: pelo arquiteto Pedro Botelho, pelo historiador João de Figueirôa-Rêgo e por Matilde Maria de Mello, herdeira da casa e atual proprietária, que é trineta do célebre Conde de Ficalho e bisneta de Eça de Queiroz.

O Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra foi fundado 50 anos antes de Portugal ser reconhecido como reino independente pela Santa Sé, a autoridade máxima na Europa medieval. D. Afonso Henriques, ainda um príncipe insurreto, apoiou a fundação do Mosteiro de Santa Cruz, apostando na estreita ligação dos Cónegos Regrantes de Santo Agostinho com o poder de Roma. A afirmação do primeiro rei de Portugal está, portanto, intrinsecamente ligada a Santa Cruz e o Mosteiro de Santa Cruz deve muito do seu poder e prestígio a sucessivos reis de Portugal. É, portanto, compreensível que D. Afonso Henriques tenha decidido fazer-se sepultar em Santa Cruz, que o seu filho, D. Sancho I, tenha seguido o exemplo, e que, 300 anos depois, o rei D. Manuel I e, depois, o seu filho, D. João III, tenham investido tanto neste mosteiro. Durante séculos, o poder simbólico do Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra não teve paralelo em Portugal.

Nos inícios de 1900, morriam em Portugal cerca de 140 bebés em cada mil, até ao um ano de idade. Em Lisboa, o Bairro de Alfama era dos mais problemáticos e as suas crianças das mais desprotegidas. É face a essa situação que é criada a Associação Protectora da Primeira Infância que dará origem ao Lactário que, entre 1903 e até aos anos 60, alimentou e cuidou de mais de 12 000 bebés de Alfama. Já no séc. XXI, os descendentes de Rodrigo Aboim Ascensão, o fundador da Associação e do Lactário, criam o Museu do Lactário, que conta esta história inspiradora. Uma visita guiada por Joana Pinheiro de Almeida, coordenadora do museu, por Daniel Alves, professor do Instituto de História Contemporânea, e por Maria Sande Lemos Cunha e Sá, presidente da Fundação do Museu do Lactário.

A partir da segunda metade do séc. XX, o LNEC impôs-se como referência internacional na construção de barragens. Mas não só: são muitas as áreas de especialidade deste laboratório pioneiro. Dos EUA ao Brasil, passando pela África então dita portuguesa, os estudos de base do LNEC permitiram obras extraordinárias, que perduram como testemunho da excelência da engenharia nacional. Mas o imenso Campus do LNEC, em Lisboa, é ainda palco relevante para a História da Arquitetura em Portugal. Uma surpreendente visita guiada pela Presidente do Conselho Diretivo do LNEC, engenheira Laura Caldeira, pelo engenheiro Alfredo Campos Costa, do Núcleo de Engenharia Sísmica e Dinâmica de Estruturas, e pela arquiteta Ana Tostões.

Os banhos Islâmicos de Loulé são os únicos achados em Portugal até ao momento. Do séc. XII, como a própria cidade de Loulé, que, à época, se chamava Al-`Ulyà, os banhos foram musealizados com um projeto múltiplas vezes premiado. Uma visita às práticas dos louletanos de há 900 anos pela arqueóloga Dália Paulo, museóloga e coordenadora do projeto de musealização dos Banhos Islâmicos.

Até meados do séc. XVIII, o litoral do concelho de Almada era completamente despovoado. Ninguém vivia no território daquela que, no séc. XX, veio a ser uma das principais cidades satélites de Lisboa: a Costa da Caparica. Foram pescadores da zona da ria de Aveiro e do sotavento Algarvio que, por razões diferentes, no decurso de 1700, convergiram para os areais da Costa da Caparica. Pioneiros no povoamento da região, à época infecta, esses pescadores, do Norte e do Sul do país, foram abandonados à sua sorte durante cem anos pelas autoridades locais e nacionais. A partir dos anos 20 do séc. XX, com o início da exploração turística da Costa da Caparica, os descendentes desses primeiros povoadores foram exilados nas periferias do novo centro urbano. Com o Estado Novo, os pescadores da Costa da Caparica passaram a gozar de benefícios sociais sem precedentes e a sua imagem a ser esgrimida pelo regime com fins propagandísticos. Uma história surpreendente contada pelo investigador Francisco ...

Entre 1425 e 1438, D. Duarte, o príncipe herdeiro de D. João I, escreveu uma série de textos que viriam a compor a célebre obra Leal Conselheiro. Peça única na cultura europeia do final da Idade Média, Leal Conselheiro foi parar à Biblioteca do rei de França nos finais do séc. XV. Como transitou a obra do rei português para a posse do rei francês? Que circunstâncias ditaram o exílio de Leal Conselheiro? Mergulhada na mais completa obscuridade durante 400 anos, a obra foi redescoberta no séc. XIX pelo erudito Abade Correia da Serra nas prateleiras menos frequentadas da biblioteca francesa. Encadernado em conjunto com Leal Conselheiro encontrava-se o Livro da Ensinança de Bem Cavalgar Toda Sela, também da autoria do rei D. Duarte - um texto que teria sido o primeiro tratado europeu de arte equestre se tivesse sido conhecido à época em que foi produzido. O investigador João Dionísio, autor da introdução à edição digital de Leal Conselheiro, guia-nos pela história da atribulada viagem ...

Francisco Martins Sarmento nunca foi sócio da Sociedade Martins Sarmento. A Sociedade foi fundada em Guimarães, em 1881, por um punhado de burgueses liberais para homenagear Martins Sarmento. Instruir o povo vimaranense e desenvolver economicamente a região eram os objetivos. A Sociedade Martins Sarmento criou e apoiou escolas, fundou a primeira biblioteca pública da cidade e promoveu a Exposição Industrial de 1884, que daria um impulso relevante à atividade económica local. Francisco Martins Sarmento, o homem em nome de quem tudo isto foi feito, merecia a homenagem: solidário, erudito e rico, Martins Sarmento abraçou causas justas e bateu-se por elas. Como arqueólogo, Martins Sarmento granjeou reconhecimento internacional. Uma visita guiada por Antero Ferreira, o presidente da direção da S.M.S., e Francisco Brito, membro da direção da S.M.S.

Durante séculos, a Citânia de Briteiros foi designada pelo povo do concelho de Guimarães como "Cidade Morta". Nos anos 70 de 1800, Francisco Martins Sarmento, um vimaranense erudito, decidiu abordar a Cidade Morta, pela primeira vez, com os mais rigorosos métodos da Arqueologia. Martins Sarmento identificou os oito séculos em que a dita Cidade Morta fora viva, descobriu e escavou outros castros no Norte de Portugal, recolheu peças preciosas que compõem, até hoje, o acervo central do Museu da Sociedade Martins Sarmento, e impressionou a comunidade científica internacional com os seus métodos inovadores. Uma visita guiada por Gonçalo Cruz, o arqueólogo responsável pela Citânia de Briteiros.

Nos anos 50 e 60 do séc. XX, num Portugal constrangido por um Regime que exercia uma política de gosto historicista, o Algarve e, em particular, Faro foram palco de uma explosão de arquitetura modernista que não aconteceu em mais ponto nenhum do país. A que se deveu este epifenómeno? A tese do guia desta visita, o arquiteto e investigador Ricardo Costa Agarez, é que, entre outros fatores, a familiaridade dos algarvios com as linhas puras da arquitetura popular local facilitou a procura e a aceitação geral da nova linguagem arquitetónica. No Algarve, Olhão era e é o exemplo maior dessa arquitetura popular que encantou os modernos e lhes abriu caminho na paisagem urbana.

Como é que um crime pode estar na origem da construção de um laboratório de química? Um laboratório tão bem concebido que se manteve ativo durante quase cem anos. A ligação entre estes dois factos, o crime e a construção do laboratório, deve-se a António Joaquim Ferreira da Silva, um notável químico que se afirmou a uma escala nacional e internacional na produção da prova material que levou à condenação do alegado criminoso. O prestígio que acumulou com o caso criminal, de alto perfil, capitalizou-o Ferreira da Silva pressionando os decisores da novíssima Universidade do Porto a construir um laboratório de química ao nível do que havia de melhor na Paris da época. Uma visita guiada pela investigadora Marisa Monteiro e pelo professor de química Luís Belchior.

Aos 21 anos, Calouste Sarkis Gulbenkian já vendia moedas antigas ao British Museum. Não foram este tipo de transações que notabilizaram Gulbenkian como negociante e financeiro, mas o seu nome impôs-se também como colecionador de arte. No universo da arte, ao longo de 50 anos, Gulbenkian comprou sempre aquilo de que gostava, ainda que o seu gosto tenha sido meticulosamente cultivado até ao fim da vida. Estudava, via exposições, aconselhava-se com os melhores e, acima de tudo, intuía. Foram variadas as peças por si eleitas que só mais tarde se confirmaram obras-primas. Falências, revoluções, guerras, coleções dispersas, Gulbenkian soube gerir todas as crises a favor da sua eclética e preciosa coleção. O Museu Gulbenkian, inaugurado 14 anos depois da morte de Gulbenkian, é a casa que desejou para as suas obras de arte. Está classificado como um dos sete melhores Pequenos Museus do Mundo. Uma visita guiada por João Carvalho Dias, curador e diretor-adjunto do Museu Gulbenkian.

O colosso económico e demográfico que é a China não emergiu a uma escala planetária no séc. XX, reemergiu. No séc. XVI, quando os portugueses chegaram à China, já a China era, há séculos, um colosso económico e demográfico sem paralelo. No final do séc. XIX, os interesses concertados dos europeus conseguiram fazer capitular a grande China e, daí em diante, a historiografia ocidental tendeu a menosprezar a relevância da que é uma das mais antigas civilizações do mundo. Durante cerca de dois mil anos, a China foi governada com base na meritocracia. Os europeus aprenderam com os chineses, entre muitas outras coisas, o método do Exame para selecionar os mais instruídos. Uma fascinante visita guiada por Ana Cristina Alves, Isabel Pina e Carmen Amado Mendes.