Visita Guiada

A maior singularidade do MIAA é o enorme arco cronológico, geográfico e tipológico do que mostra. Artefactos com 600 mil anos achados no território de Abrantes, ferros da Pérsia, cerâmicas do Egito, vasos da antiga Grécia, ourivesaria romana, escultura da Europa medieval e renascentista, arte dos séculos XX e XXI. No convento quinhentista de São Domingos, reabilitado para o efeito pelo arquiteto João Luís Carrilho da Graça, este museu organiza as suas narrativas a partir de peças de quatro coleções distintas que, de uma maneira ou de outra, nos falam sempre de grandes temas humanos: comércio, guerra, religião, pensamento, beleza. Uma visita guiada pelo museólogo Fernando António Baptista Pereira e pelo arqueólogo Luiz Oosterbeek.

Nos séculos XV, XVI, XVII, o lugar de Angra foi escala obrigatória para todos os navios que regressavam à Europa das suas expedições transatlânticas. Em particular, os reinos ibéricos da expansão marítima contaram, durante séculos, com Angra como posto de abastecimento e restabelecimento dos seus marítimos e das suas embarcações. Por que razão, entre as nove ilhas dos Açores, coube à Terceira, e mais propriamente a Angra, essa missão? Esse estatuto? As causas e as consequências vamos conhecê-las pela mão do investigador Francisco Maduro-Dias, um terceirense apaixonado.

O epíteto de "A Liberal" para a ilha Terceira é enganador: nos anos 20 e 30 do séc. XIX, quando se deram os acontecimentos que brindaram a ilha com o seu cognome, a esmagadora maioria dos habitantes da Terceira era absolutista, ou miguelista ou, se se preferir, pelo Antigo Regime. Mas a verdade é que foi na ilha Terceira que D. Miguel sofreu a primeira grande derrota às mãos de um exército liberal, ainda em formação e ainda sem D. Pedro. O investigador Francisco Maduro-Dias, um terceirense apaixonado, guia-nos pelos vertiginosos dias, entre 1822 e 1832, que deram a esta ilha do Atlântico o estatuto de Bastião da Liberdade.

Fundada em 1848, a Incrível Almadense é uma das mais antigas, senão a mais antiga, associação cívica de raiz popular do país. É costume dizer-se que a Fundação Calouste Gulbenkian cumpriu, durante décadas, as funções dos ministérios da Cultura e da Ciência que não existiam no país. Será justo reconhecer que também associações cívicas como a Incrível Almadense prestaram a muitos portugueses, durante muito tempo, importantes serviços na área da Educação e da inserção social. Muito para lá da promoção e do ensino da música, do desporto, do teatro, a Incrível Almadense trabalhou na alfabetização de adultos e na diferenciação dos almadenses, com a sua biblioteca aberta a todos e com a oferta sistemática de conferências que funcionavam como aulas públicas.

Uma alvíssima vila medieval, no topo de uma colina, visível a muitos quilómetros de distância. A singular poética da imagem de Monsaraz há muito que atravessou fronteiras. E entre todos os seus encantos, o facto de ser branca é uma das causas maiores do seu poder icónico. Acontece que a imagem de Monsaraz, como a conhecemos, tem menos de cem anos. Foi na década de 60 do séc. XX que a vila de Monsaraz se pintou de branco. As razões profundas dessa transformação encontramo-las no célebre livro de José Cutileiro, Ricos e Pobres no Alentejo. Uma visita guiada pela investigadora Ana Paula Amendoeira.

O castelo de Leiria foi mandado edificar por D. Afonso Henriques, no contexto das suas campanhas de conquista dos territórios ocidentais da Península Ibérica. Duzentos anos depois, D. João I decide mandar fazer, dentro do castelo, uma nova habitação régia, moderna à época, para seu lazer e para lhe servir de base quando acompanhava as obras do Mosteiro da Batalha, que tinha mandado construir a poucos quilómetros de distância. Restaurados a partir de inícios do séc. XX, o castelo de Leiria e o seu Paço Real permanecem como potentes testemunhos de momentos-chave da História de Portugal. Uma visita Guiada pelo historiador Saul António Gomes.

Na zona histórica da cidade, a Academia das Ciências está instalada desde há 200 anos no complexo daquele que foi um dos grandes conventos de Lisboa. Um convento franciscano onde se praticava a investigação das Ciências da Natureza e o seu ensino. A fabulosa biblioteca da Academia das Ciências é herdada desses franciscanos e os seus mais preciosos volumes pertenciam-lhes. Fundada no séc. XVIII, no Século das Luzes, a Academia das Ciências de Lisboa foi criada com os mesmos objetivos da Academia francesa que lhe serviu de referência. Mas, ao contrário dessa e de outras congéneres europeias, a Academia de Lisboa não rompe de imediato com a leitura teológica do mundo... Uma visita pela mão dos historiadores José Luís Cardoso, Presidente da Academia das Ciências de Lisboa, e Henrique Leitão, Diretor da Biblioteca da Academia das Ciências de Lisboa.

Criada por um burguês portuense entre os anos 20 e o início dos anos 40 do séc. XX, esta Casa-Museu não tem paralelo. Com os seus interiores integralmente forrados com talha barroca, talha retirada de igrejas e conventos no contexto da Lei da Separação do Estado das Igrejas e das campanhas da Direção-Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais, são mais as interrogações sobre esta "obra" e o seu "autor" que o que sobre eles se sabe. Quais terão sido as motivações de Fernando de Castro, um artista mais que discreto, secreto? De que edifícios são oriundas as peças de talha que usou? Que leitura fazer deste património tão radicalmente singular? Uma visita guiada por um dos decanos da História da Arte Portuguesa, Raquel Henriques da Silva.

Lisboa é o mais complexo sítio arqueológico de Portugal. Trata-se de um território povoado há mais de 2.500 anos e nele se encontram as sucessivas camadas das sucessivas culturas dominantes. Da Idade do Ferro ao Império Romano, passando pela ocupação muçulmana, pela Idade Média Cristã e pela reconstrução da chamada Baixa Pombalina, depois do grande terramoto de 1755. Apesar de existirem muitos sítios arqueológicos em Lisboa, no subsolo do edifício-sede do maior banco privado português foram musealizados os restos dessas sucessivas camadas de ocupação e a leitura desses vestígios está facilitada por projeções que qualquer pessoa pode compreender. O NARC é um caso exemplar a vários títulos. Visita guiada pela arqueóloga Jacinta Bugalhão, da Direção-Geral do Património Cultural.

A casa de Genoveva de Lima Mayer e do seu marido, o académico e financeiro Rui Enes Ulrich, testemunha, de forma indireta, parte da História do séc. XX. As muitas viagens, relações sociais e inclinações políticas do casal ficaram plasmadas na sua morada, que se conserva como ambiente histórico. Veva de Lima, uma criativa com aspirações literárias, animou a vida cultural da Lisboa burguesa dos anos 20, 30 e 40 do século passado, que surpreendeu com as suas peripécias. Da infância entre os Vencidos da Vida à cosmopolita Biarritz do início do século, da Corte inglesa dos anos 30 à África colonial da primeira metade do séc. XX, Veva de Lima viveu peripécias surpreendentes de que ficaram muitos registos. Uma Visita Guiada por Alfredo Magalhães Ramalho, Presidente da Associação Casa Veva de Lima.

Um ano depois da rainha D. Leonor, já viúva de D. João II, ter fomentado a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, o rei D. Manuel I, seu irmão, desafia os "homens-bons" do Porto a fundarem na cidade a sua Santa Casa da Misericórdia. Corria o ano de 1499 e a Irmandade começa por se instalar no Claustro Velho da Sé do Porto. Cerca de 50 anos depois, a instituição decide construir casa própria na novíssima Rua das Flores, edifício onde hoje se encontra o Museu da Santa Casa da Misericórdia do Porto. A História dos mais de 500 anos da S.C.M.P. cruza-se, a cada passo, com a História de Portugal e com a História, singular, da cidade do Porto. Dos muitos episódios narrados neste museu, a partir de um espólio riquíssimo, sobressai um facto: a Santa Casa da Misericórdia do Porto, criada para servir os mais necessitados, sempre foi uma instituição privada, alimentada pelas doações de benfeitores privados. Uma visita guiada pelo Provedor da S.C.M.P., António Tavares.

A indústria mineira do séc. XIX em Portugal teve um imenso impacto social e político nas populações envolvidas. De todas as minas ativas nesse período, a exploração de São Domingos, no concelho de Mértola, foi a maior. Da violência da transição da vida rural para a vida industrial, passando pela emergência do proletariado mineiro e pela alteração radical da paisagem, a história da Mina de São Domingos é uma página relevante da História Contemporânea portuguesa. Mas não só. É também a história de um projeto capitalista muito ambicioso, que se tornou uma referência internacional para o desenvolvimento da indústria mineira. Uma visita guiada pelo historiador Paulo Guimarães.

Inspirado nos palacetes que a elite financeira parisiense mandou edificar nas largas avenidas resultantes da reforma urbanística de Haussmann, o chamado Chalet Biester é encomenda de uma família portuguesa e executado por artistas portugueses num dos mais icónicos lugares de Portugal. Riquíssimos, Frederico e Amélia Biester, eram viajados, cultos e bem informados das tendências internacionais. Nos anos 80 de 1800, não mediram despesas na edificação de um chalet de veraneio em Sintra. O primeiro de uma série de chalets que marcaria daí em diante a paisagem da serra mais cobiçada do país. Uma visita guiada pelas investigadoras Ana Gomes e Denise Pereira.

Nascido de uma trágica saga familiar, o Sanatório de Sant´Ana foi, durante a primeira metade de 1900, um projeto exemplar a uma escala europeia. Riquíssimo, sem filhos, o casal Amélia e Frederico Biester tinha sofrido a perda precoce de familiares próximos para a tuberculose. Com o Dr. Sousa Martins, o campeão português do combate à tuberculose, de quem eram amigos, Amélia e Frederico empenharam-se no milimétrico projeto de construção de um sanatório de excelência, destinado a crianças desfavorecidas. Compraram o terreno, contrataram a equipa e fizeram os planos, mas não chegaram a vê-lo. Em menos de um ano, entre 1899 e 1900, Frederico e Amélia morrem de tuberculose. Dois anos antes, o Dr. Sousa Martins suicidara-se por ter, também, contraído a chamada "peste branca". É uma irmã da mãe de Amélia, Claudina Chamiço, que aos 82 anos levará a bom porto o extraordinário Sanatório de Sant´Ana. Uma visita guiada por Carlos Teixeira.

Uma das melhores peças do barroco português, a Igreja Menino Deus começou a ser edificada, a mando de um jovem D. João V, em 1711. A obra começou antes da do monumental Convento e Palácio de Mafra e terminou depois dele, em 1736, mas a sua escala mais modesta não lhe retira o lugar singular na história da arquitetura europeia. E nem só do desenho se faz a excecionalidade da Igreja Menino Deus, a sua acústica é tão perfeita que muitos são os músicos que nela procuram atuar. Um dos raros edifícios de Lisboa que resistiu incólume ao terramoto de 1755, este património é hoje protegido por religiosas da Ordem de São José de Cluny e por uma associação cívica, que nasceu da vontade de o preservar. Uma visita guiada pelo arquiteto Fernando Jorge, pelos músicos Marta Araújo e Marcos Magalhães e pela Irmã Ludovina.