Catarina Furtado percorre as ruas e ruelas do Bairro Segundo Torrão, em Almada, através das diretrizes da associação "Cova do Mar" criada por Alexandra Gonzalez, que aqui fez nascer o bonito projeto "Fábrica dos Sonhos". As crianças dos seis aos 16 anos são a prioridade desta associação e desta ocupação dos tempos livres que oferece educação e afeto. Através de atividades diárias, e sempre com o envolvimento das famílias, as crianças são incentivadas a assumir papéis de liderança na comunidade. Neste lugar vivem mais de três mil pessoas em casas precárias, com acesso limitado à eletricidade, ao saneamento ou à recolha de lixo. Todas estas crianças desejam que o bairro tenha mais condições, porque assim não precisam de mudar de habitação e podem manter amizades. Mas apesar das inúmeras promessas de realojamento, até hoje, nada ainda foi concretizado.

Catarina Furtado e a sua equipa dos Príncipes do Nada percorreram as ruas da Quinta do Ferro, um bairro degradado bem no centro de Lisboa, paredes-meias com a Graça e Santa Apolónia, há décadas que não se cumpre um direito que vem expresso na Constituição da República Portuguesa: o direito à habitação. Uma habitação com "dimensão adequada", condições de "higiene e conforto", que preserve a "intimidade pessoal" e a "privacidade familiar". Aqui vivem muitas famílias, com idosos e crianças, em casas ou barracas sem água que corra na torneira, sem eletricidade e sem saneamento. Uma associação que une moradores e proprietários quer mudar este cenário indigno, de miséria, reabilitar o bairro e potenciar as vidas de quem cá vive e que tem muito para dar à sociedade, inclusivamente jovens. Até já existe um projeto. Mas ainda há um longo caminho a percorrer entre o desejado e a realidade do quotidiano do bairro da Quinta do Ferro.

No Algarve, na Tavira que não vem nos roteiros turísticos, do centro da cidade à aldeia serrana mais remota, vivem (ou sobrevivem como podem) muitos idosos, sobretudo mulheres, viúvas, sozinhas, sem família próxima, por vezes sem vizinhança alguma, numa solidão calada. Mas como foi também em Tavira que nasceu o "Lado a Lado", Catarina Furtado com os seus Príncipes do Nada foram perceber como, na prática, este projeto é a boia de salvação para muitos destes seniores. "Lado a lado" destina-se a combater a solidão entre os mais velhos, seja pela visita dos técnicos a casa, por uma conversa em que se escuta mais do que se diz, fazendo pequenos recados (uma ida ao supermercado, à farmácia) ou recebendo-os na sede da associação "Em contacto", espaço que para tantos é a maior (e talvez única) razão para sair e partilhar experiências e memórias.

Em Sintra, e já desde 1893, a Casa de Saúde do Telhal, que pertence à Ordem Hospitaleira de S. João de Deus, acompanha diversos pacientes, quer em situação de doença mental grave, quer em período de internamento mais passageiro, mas sempre com um foco muito concreto: reabilitar e devolver à sociedade, à vida quotidiana, ao emprego, às famílias, quem lá entrou um dia. E são já muitos os casos de sucesso. Aos Príncipes do Nada foi-lhes autorizada uma visita (o que não costuma acontecer com a comunicação social) e Catarina Furtado e a sua equipa conversaram com doentes, médicos e técnicos. A saúde mental é pouco discutida em Portugal, muitas vezes por falta de informação, tantas vezes por vergonha. Mas Portugal já é o quinto país da OCDE onde mais se consomem antidepressivos e ansiolíticos, números que a pandemia só veio acentuar.

Foi no ano de 2015, na região da Guarda, que uma jovem, Bárbara, começou a planear uma ideia inovadora em Portugal, o Projeto LAR, que tinha como objetivo combater o despovoamento do interior, integrando famílias de migrantes e refugiados. Príncipes do Nada, que na sua última série se dedicou precisamente à temática dos refugiados e migrantes, foi até lá. Um projeto que só é possível devido à vontade daqueles que acreditam que a diversidade pode ser a chave enriquecedora para o futuro de um interior que foi ficando vazio...

Catarina Furtado com a sua equipa dos Príncipes do Nada foram até à região de Lafões, Beira Alta, visitar uma instituição de solidariedade social, a ASSOL, que, sedeada em Oliveira de Frades mas estendendo-se às localidades vizinhas, promove há mais de 30 anos a inclusão social de pessoas, crianças e adultos, com deficiência. Tem hoje cerca de mil utentes. O lema atual, tal como no passado é o mesmo: "alargar mundos e realizar sonhos". Normalizar a diferença. Em Portugal a diferença ainda significa estigma. De acordo com o Eurostat, o risco de pobreza e exclusão social é ainda muito alto no nosso país: uma em cada três pessoas com deficiência encontra-se no limiar desta situação. As histórias de sucesso desta instituição provam, se dúvidas houvesse, que ter uma deficiência não é sinónimo de inaptidão. Estas pessoas podem ser, e são, úteis para a sociedade.

Em Beja, a associação "Estar", criada pela Madalena e pela Inês (que trocaram empregos certos pela solidariedade sem pedir nada em troca), pretende dar uma resposta imediata à necessidade das pessoas mais vulneráveis, quer através do Projeto Marmita, que distribui alimentos oferecidos por supermercados, quer através da loja social, onde vendem a preço simbólico roupa e todo o tipo de bens em segunda mão. Catarina Furtado conversou com as duas mulheres empreendedoras sociais, ativistas, altruístas que se debatem diariamente com uma das maiores lutas atuais da sua associação e dos quase 40 voluntários: apoiar também (exigindo para eles contratos e direitos laborais) alguns dos centenas de migrantes que trabalham nos campos no Alentejo, um compromisso sazonal - e, portanto, incerto - que os deixa (e às famílias) largos meses sem sustento.

Criada em 2010 por um grupo de jovens que apoiava - com os "trocos" que faziam na baixa de Lisboa, a tocar e a cantar - aqueles que mais necessitavam, hoje a associação "Just a Change" reconstrói casas de pessoas carenciadas em Portugal. Com a colaboração de cerca de cinco mil voluntários, ao longo de 11 anos "Just a Change" reabilitou mais de 300 casas e instituições. Catarina Furtado e a sua equipa acompanharam o "antes" e o "depois" da pequena casa de Maria José. Aos 79 anos, no centro da cidade do Porto, Maria José vivia até há pouco tempo, sem acesso a saneamento básico e a ter de usar galochas dentro de casa porque a água inundava-lhe o chão. Trata-se apenas de mais um caso entre os cerca de 400 mil portugueses que vivem em situação de pobreza habitacional. Portugal é mesmo o segundo país da União Europeia no qual mais pessoas vivem em casas sem condições dignas.

É num pequeno rés-do-chão, no bairro social do Casal da Mira, na Amadora, que funciona a Pressley Ridge, uma associação que, naquele bairro e noutros do concelho, acompanha crianças em situação de vulnerabilidade psicossocial. Um meritório projeto da Pressley, que funciona há já seis anos e é sempre realizado em família e no contexto familiar - preferem-se as casas e não os gabinetes -, é o CAFAP: Centro de Apoio Familiar e Aconselhamento Parental. A equipa dos Príncipes do Nada foi perceber como funciona na prática esta intervenção social que pretende desenvolver competências parentais através da positividade, de encontrar os pontos fortes que há em cada pai e mãe - sem juízos de valor ou atribuir culpa. O objetivo, no fim de tudo, é a "preservação" - evitando que uma criança seja retirada - e, nalgumas situações, a "reunificação": devolvendo à família crianças institucionalizadas. Hoje, a Pressley Ridge trabalha com 200 crianças (76 famílias no total).

Vanessa, Totó, Marisol... e tantos outros são a prova de que os ciganos não são todos iguais. Através do trabalho da Associação Beira Serra, Catarina Furtado acompanhada pela sua equipa dos Príncipes do Nada, conversou com crianças, jovens, adultos, meninas, meninos, mulheres e homens ciganos que dão voz à mudança de mentalidades. Pessoas que vivem no Fundão, Covilhã e em Belmonte. Vanessa Lopes que está a estudar para se transformar na primeira mulher jornalista cigana e que, na Rádio Cova da Beira, tem uma rubrica, "Mitos ou Verdades" ajuda a desconstruir ideias feitas que perpetuam discriminações e atrasam a integração.

A "rede ex aequo", associação de jovens lésbicas, gays, bissexuais, trans, intersexo e apoiantes, surge em 2003 com o objetivo de ir de encontro das necessidades específicas da juventude LGBTI. Jovens que se sentem limitados pela falta de independência financeira e pela dificuldade de crescer num mundo em que o preconceito e a discriminação ainda perduram quando se fala de orientação sexual, identidade, expressão de género e características sexuais. Todas as histórias que Catarina Furtado dá a conhecer neste episódio de Príncipes do Nada (a de Jo, da Inês, da Bruna, do Vasco ou do Carlos) são relatos de vidas de jovens que encontraram na "rede ex aequo" um lugar contra a discriminação, um espaço onde as suas vozes têm poder: o poder de mudar mentalidades.

O Estatuto do Cuidador Informal foi aprovado no ano de 2019. No entanto, somente 30 concelhos acabariam por ser, numa primeira fase, abrangidos pelo projecto-piloto que reconhece, e apoia, o cuidador e a cuidadora. Mas os apoios para quem cuida, quem tanta vez se "anula" para cuidar, que cuida por amor e com amor, são ainda poucos e parcos. Catarina Furtado e a sua equipa dos Príncipes do Nada foram até Valongo, no distrito do Porto, para conhecer o trabalho da IPSS Viver Alfena, que tem hoje um projeto tão especial quanto essencial: o IDDA. Nasceu da boa-vontade de um jovem psicólogo, o Diogo, e intervém socialmente na área da doença de Alzheimer e outras demências.

Em Lisboa, uma associação fundada em 2017 em Campolide, "Amigos da Estrela", tem um projeto que importa conhecer: o Souma. A equipa dos Príncipes do Nada passaram dois dias a acompanhar uma azáfama contagiante. Aqui garantem-se alimentos a quem tem fome, mas o Souma é bem mais do que isso: o que os seus fundadores (todos antigos voluntários da Re-food) pretendem é compreender as razões da pobreza, alterando-as, e, assim, "transformar vidas". Neste episódio Catarina Furtado conheceu a história de José Carlos, ex-toxicodependente e antigo beneficiário do Souma que se tornou num precioso voluntário da "Amigos da Estrela". Mas também as vidas de todos quantos aqui fazem o bem sem esperar nada em troca. Desde o reputado neurologista Alexandre Castro Caldas à telefonista Manuela e tantos outros voluntários da associação, "cozinheiros" ou organizadores que, com a sua genuína entrega, permitem apoio a centenas de pessoas.E o Souma já chega a 300 cidadãos, garantindo 3.600 refeições semanais.